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Trilhas Sonoras



Jerry Goldsmith: "Eu ouço vozes" - Parte I

(Por Alexandre Arroyo, publicado em 16/07/2016)


Foto: compositor Jerry Goldsmith

Em uma das entrevistas que concedeu ao longo de sua carreira, o compositor de trilhas sonoras Jerry Goldsmith falou sobre o seu método de trabalho e também sobre os seus intrumentos musicais preferidos. Ele disse o seguinte: "Uma boa seção de cordas e uma orquestra são as primeiras coisas em que eu penso quando vou começar um projeto. As cordas são particularmente importantes para mim. Com elas eu posso fazer qualquer tipo de filme. Depois da voz humana, elas são o instrumento mais expressivo que eu conheço".

Em uma outra ocasião, após ter sido contratado para compor a trilha sonora do filme A Profecia, Goldsmith visitou os sets de filmagem. Durante a visita, o diretor Richard Donner perguntou-lhe como seria a música do filme e o compositor respondeu: "Eu ouço vozes".

Esses são dois exemplos que comprovam o apreço do compositor pela utilização da voz humana como instrumento musical. De fato, Goldsmith foi um dos compositores de trilhas sonoras que mais utilizou (e que mais soube explorar de forma adequada) a voz humana na música para cinema, criando temas e trilhas memoráveis.

Atualmente a utilização de corais em trilhas sonoras para filmes se tornou algo comum, banal. Utiliza-se corais de forma indiscriminada, principalmente em superproduções hollywoodianas, para dar um tom de grandiosidade à música. Mas o excesso na utilização desse recurso, aliado a falta de criatividade fazem com que, no final, os sons resultantes pareçam todos iguais.

Reparem nos trailers que passam nos cinemas hoje em dia. Quase sempre eles vem acompanhados de uma música bombástica, que inclui invariavelmente um ruidoso coral. Isso se tornou uma espécie de regra, principalmente em trailers de filmes de super-heróis. As músicas, entretanto carecem de originalidade e soam repetitivas.

Goldsmith, por outro lado, soube tirar o máximo proveito desse recurso, explorando-o de forma criativa e marcante.

Confiram a seguir uma seleção de trilhas sonoras nas quais o compositor utilizou vozes nas mais diversas formas:


O Preço de um Covarde (Bandolero!) - 1968



Se considerarmos o assovio como uma forma de voz, então esse western de 1968 entra nessa categoria. Nesse trabalho, Goldsmith optou por um tema de abertura assoviado. A escolha valorizou a melodia, ao mesmo tempo em que seguiu uma tradição dos westerns da época.

Confira o tema principal do filme (abre em uma nova janela do navegador).


Uma Sombra Passou Por Aqui (The Illustrated Man) - 1969



Na trilha sonora do filme Uma Sombra Passou Por Aqui, baseado num livro do escritor de ficção científica Ray Bradbury, o tema principal é interpretado por uma única voz, uma voz feminina misteriosa e levemente dissonante. Creio que o objetivo principal do compositor com essa melodia foi intrigar o espectador, envolvendo-o desde o início na atmosfera de mistério do filme.

Confira o tema principal do filme (abre em uma nova janela do navegador).


A Profecia (The Omen) - 1976



Nesse trabalho, considerado por muitos como a melhor trilha sonora já composta para um filme de terror, o compositor teve a ideia de utilizar um coral cantando em latin. A trilha, que tem como base a canção principal "Ave Satani" é um verdadeiro hino a Satanás (veja aqui o significado da letra) e ganhou o Oscar de melhor trilha sonora de 1976. Goldsmith compôs diversas variações desse tema. Mas curiosamente, foi para esse filme de terror que Goldsmith compôs um de seus temas românticos mais belos, esse tema é utilizado na parte inicial do filme, para enaltecer o amor do casal que adota uma criança, sem saber que ela é na verdade o anticristo.

A princípio essa trilha sonora pode assustar a alguns ouvintes mais sensíveis, mas quem ouvi-la com atenção vai descobrir uma obra sinfônica original e impactante, que influenciou muitas das trilhas sonoras para filmes de terror que vieram depois.

O objetivo do compositor nesse caso foi simbolizar o mal por meio da música. Como o filme evita apelar para elementos fantásticos, é a trilha sonora que sinaliza para o espectador quando as forças do mal estão presentes na trama. Genial!

Confira o tema principal do filme, executado pela Tenerife Film Orchestra & Choir, sob a regência do maestro Diego Navarro
(abre em uma nova janela do navegador).


Damien – Profecia II (Damien – Omen II) - 1978



Como o filme A Profecia foi um grande sucesso de bilheteria, ele ganhou uma continuação lançada dois anos após o original, portanto em 1978. Segundo relatos, assim que o estúdio deu o sinal verde para se fazer uma continuação, o produtor Harvey Bernhard tratou logo de garantir a participação do compositor, cuja trilha sonora é considerada um dos principais motivos para o sucesso do primeiro filme. Dessa forma Goldsmith retornou com uma trilha sonora ainda mais sinistra que a primeira, contendo novas variações do tema "Ave Satani" e uma novidade: o coral imitando o som de um corvo (o corvo crocita). Se no primeiro filme o animal que protegia o anticristo era um cão rottweiler, nesta sequência passou a ser um corvo.

Confira o tema principal do filme (abre em uma nova janela do navegador).


Conflito Final – A Última Profecia (The Final Conflict) – 1981



No início dos anos 80 foi lançada a terceira e última parte da trilogia A Profecia. Mais uma vez o compositor Jerry Goldsmith foi chamado para compor a trilha sonora. Como este último filme aborda também o renascimento de Jesus Cristo, a música apresenta dois lados, um mais sombrio que representa o anticristo e outro mais religioso e triunfante simbolizando a segunda vinda de Jesus. Na sequência final do filme, que mostra Jesus e o antricristo frente a frente, a música adquire um tom épico, com o coral atingindo o máximo de sua potência.

Confira o tema principal do filme, executado pela Tenerife Film Orchestra & Choir, sob a regência do maestro Diego Navarro
(abre em uma nova janela do navegador).


Poltergeist – O Fenômeno (Poltergeist) - 1982



Goldsmith fez o seguinte comentário sobre esse projeto: "O lado humano do filme é o que é importante para mim. A maioria das pessoas o viram como uma história de fantasmas e uma história de horror. Eu vi isso como uma história de amor e escrevi a música com essa emoção em mente".

Realmente ele compôs um belo tema principal, utilizando cordas e um coral de vozes infantis no melhor estilo canção de ninar, que simboliza ao mesmo tempo a inocência da personagem principal que é uma garotinha e o amor da família por ela. Mas por trás da aparente beleza da melodia se esconde o terror e o compositor deixa isso bem claro ao finalizar a música com o som perturbador de risadas de crianças, uma espécie de alerta ao espectador/ouvinte de que apesar dos belos acordes que ele acabou de ouvir, ele não deve se esquecer de que se trata de um filme de terror.

Quando a trilha sonora (indicada ao Oscar) foi lançada no mercado fonográfico, o produtor do filme Steven Spielberg escreveu uma longa nota de agradecimento ao compositor, publicada na contra-capa do disco. Um dos trechos dessa nota dizia o seguinte: "Com Poltergeist, Jerry encontrou seu maior desafio - nos assustar e nos levar quase às lágrimas e ele foi notável em seus esforços". Em outro trecho Spielberg comenta: "A música é tão intensa que talvez o período noturno não seja o mais indicado para ouvi-la se você assistiu ao filme".

Confira o tema principal do filme (abre em uma nova janela do navegador).


Aguardem, em breve publicarei a segunda parte desse artigo. Continua ...



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