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Clássicos do cinema digitalizados

O Festival Clássicos Cinemark foi uma iniciativa da Rede Cinemark que trouxe novamente para as telas vários clássicos do cinema em versão digitalizada. A seguir comento dois filmes que tive a oportunidade de rever na telona:

Blade Runner - O Caçador de Andróides (Versão do Diretor)
(Por Alexandre Arroyo, publicado em 05/09/2015)



Blade Runner é o meu filme favorito e foi um caso de amor a primeira vista, pois no instante em que assisti a primeira cena do filme - que mostra uma Los Angeles futurista, com chaminés cuspindo fogo contra um céu cortado por relâmpagos e veículos voadores - eu me apaixonei por ele. E essa paixão dura até hoje, mesmo eu já o tendo assistido dezenas de vezes.

A versão do filme que foi lançada nos cinemas em 1982 (e só nessa época eu assisti 11 vezes) continha algumas intervenções feitas pelos executivos do estúdio, que consideraram o longa de difícil entendimento para o grande público (ah, esses executivos de Hollywood ...). Então, decidiram incluir uma narração em off em algumas sequências "para explicar melhor a história" e adicionaram um final feliz. Lembro-me que na época essas alterações não me incomodaram tanto, embora eu tivesse estranhado o final do filme.

A produção trazia no papel principal o ator Harrison Ford, talvez no momento mais popular de sua carreira (ele tinha acabado de estrelar dois blockbusters seguidos: O Império Contra-Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida). Por causa disso, acredito que grande parte do público da época, assim como eu, esperava por uma ficção-científica cheia de ação e aventura e não pelo filme sombrio e profundo que nos foi apresentado. Mas, se por um lado a complexidade do filme o atrapalhou nas bilheterias, por outro o transformou em um clássico instantâneo, um "cult movie" como se costuma dizer, status que ele mantém até hoje.

Passados alguns anos de seu lançamento, lembro-me de ter lido que os organizadores de um evento cinematográfico tinham descoberto uma outra versão do filme, mais próxima daquilo que o diretor tinha imaginado originalmente. Logo depois, o próprio Ridley Scott anunciou o relançamento do filme, dessa vez intitulado "Blade Runner - Caçador de Andróides - Versão Original do Diretor". E eu que já era apaixonado pelo filme, passei a gostar ainda mais dele, porque na minha opinião o que já era excelente ficou perfeito. As diferenças entre as duas versões são poucas, porém fundamentais: foi incluída uma seqüência em que o personagem Deckard sonha com um unicórnio (essa seqüência é importante por sugerir que Deckard também pode ser um replicante), a narração em off foi retirada e também saiu aquele final feliz imposto pelos produtores, que foi substituído por um final mais abrupto e que deixa o destino dos protagonistas em aberto, um desfecho que é mais condizente com o restante do filme.

Além desse histórico que acabei de relatar, eu intencionava também escrever uma crítica, na qual eu pudesse demonstrar toda a admiração que tenho pelo filme. Porém, ao invés disso, resolvi resgatar e reproduzir aqui uma excelente crítica, escrita na época em que o filme foi lançado no Brasil (e cujo recorte de jornal eu guardei por todos esses anos) e que para mim diz tudo aquilo que eu gostaria de dizer sobre o filme. Ao reproduzir essa resenha, faço também uma homenagem ao seu autor.

Resenha sobre o filme Blade Runner - O Caçador de Andróides, escrita pelo crítico e jornalista Edmar Pereira, publicada no Jornal da Tarde em 28/12/1983.

UM FASCINANTE POLICIAL DE 40 ANOS ATRÁS QUE SE PASSA NO ANO 2019

Os personagens se vestem e se comportam como nos policiais de 40 anos atrás. Mas a ação se passa no ano 2019, na cidade de Los Angeles. A mistura de épocas tão diferentes e aparentemente inconciliáveis é o primeiro encanto deste filme fascinante, violento, às vezes até perturbador e angustiante, banhado freqüentemente por um inesperado sopro de poesia. Que tanto pode vir do comportamento ou relacionamento dos seus protagonistas como também do seu visual arrebatador. Poucos filmes foram "fisicamente" tão belos em toda a história do cinema, assim também como poucos souberam tirar tanto partido dramático dessa beleza.

Mais uma vez pinta-se o futuro como um tempo de caos e violência. Pessoas atropelam-se nas ruas, o trânsito é indisciplinado, a poluição triunfou e a paisagem urbana comporta tanto a mais futurista arquitetura como também velhas construções preservadas e adaptadas às necessidades da época. O problema da superpopulação da Terra faz com que se estimulem seus habitantes a começarem vida nova nas colônias espaciais. Os animais domésticos ou semi-domésticos desaparecidos são recriados por uma sofisticadíssima e superdesenvolvida indústria de engenharia genética, capaz de fabricar também réplicas exatas dos seres humanos - tão inteligentes quanto seus criadores e fisicamente ainda mais fortes. São usados para as tarefas subalternas e/ou perigosas nas colônias, como escravos.

Futuro e passado convergem para o mesmo ponto de choque quando um grupo desses "replicantes" toma uma nave espacial, assassina sua tripulação humana e retorna à Terra disposto não apenas à pura vingança mas também a um acerto de contas esclarecedor com seus criadores, que não querem ou não conseguem outorgar-lhes mais do que quatro anos de vida. Para impedir o confronto, um policial veterano e levemente entediado - como qualquer herói dos anos 40, com o rosto de Harrison Ford em lugar de Bogart - é forçado a deixar seu voluntário retiro. Ele aplicará testes sutis para descobrir "replicantes" infiltrados na indústria de engenharia genética, escapará de ciladas, enfrentará os rebeldes até um empolgante duelo final. E sua missão será temperada por um toque de dolorosa ternura: o perseguidor implacável apaixona-se por uma de suas vítimas designadas.

Uma "replicante" poderá amar como um ser humano criado por processos naturais? E as memórias? E as sensações? São falsas, são autênticas? Questões absorventes sobre as quais o filme passa sem se deter, em sua narrativa nem sempre muito clara. O diretor Ridley Scott não parece interessado em minúcias: prefere envolver o espectador de forma mais ampla e sutil, na densidade praticamente irrespirável de sua atmosfera. Aliando impecável artesanato (Scott foi um premiado diretor de filmes publicitários antes de atirar-se ao cinema de ficção com "Os Duelistas e Alien") a uma requintada sensibilidade, o diretor maneja com equilibrada harmonia todos os elementos da produção. A fotografia sempre escurecida , a música soturna e repetitiva de Vangelis, os maravilhosos cenários e figurinos, os efeitos especiais do grande mestre Douglas Trumbull (2001, Contatos Imediatos), que em nenhum momento ultrapassam a escala da credibilidade, a combinação do ritmo lento (não se trata de copiar fliperamas nem histórias em quadrinhos) com aceleradas explosões de violência - tudo tem função dramática.



Drácula de Bran Stoker
(Por Alexandre Arroyo, publicado em 22/08/2015)



O mito do vampiro, aquela criatura imortal que se alimenta de sangue, sempre esteve presente no cinema desde os seus primórdios. Já na década de 20 tivemos Nosferatu de F.W. Murnau, depois nos anos 60 e 70 vieram os filmes de Drácula estrelados por Christopher Lee, além da sátira genial A Dança dos Vampiros de Roman Polanski. No final dos anos 70 ainda tivemos uma nova versão de Nosferatu Nosferatu, o Vampiro da Noite de Werner Herzog com Klaus Kinski e uma versão romântica do Conde Drácula, Drácula com Frank Langella (ambos lançados em 1979). Já nos anos 80 o grande destaque foi o belo Fome de Viver de Tony Scott, que trouxe Catherine Deneuve e David Bowie como os vampiros mais chiques e sofisticados da história do cinema.

A questão é que, se ficarmos somente com esses títulos mais antigos, já constatamos que a lista de filmes sobre vampiros é grande e que as abordagens são as mais variadas possíveis.

Eis que em 1992, o diretor Francis Ford Coppola (de O Poderoso Chefão e Apocalipse Now) resolveu entrar nessa onda e dar a sua própria versão do famoso personagem “imortalizado” no livro de Bran Stoker.

Buscando manter uma maior fidelidade para com a história original, Coppola fez um filme de vampiro mais tradicional. Mas o Drácula de Coppola também é um espetáculo grandioso e eu poderia utilizar vários outros adjetivos para descrevê-lo: épico, romântico, sensual, assustador.

Em algumas partes do longa o diretor se utiliza de um recurso eficiente de montagem, mostrando duas ou mais situações ocorrendo paralelamente, com o objetivo de aumentar a tensão.

O apuro técnico do filme também chama a atenção, quase nada de efeitos digitais, os efeitos visuais aqui são resultado de soluções artesanais, o que confere ao filme um charme adicional. Para construir a atmosfera impressionante do filme o diretor contou também com a direção de arte caprichada de Thomas E. Sanders, com os maravilhosos figurinos da designer Eiko Ishioka (reparem nos detalhes da armadura do conde Drácula e no vestido de noiva utilizado pela personagem Lucy) e com a trilha sonora sombria do compositor polonês Wojciech Kilar (falecido em 2013).

Para quem quiser entrar no clima, segue um trecho da trilha sonora do filme.




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